segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O garoto verde

Um simples olhar inicia a negociação de uma troca de desejos.
No ônibus cercados como estávamos de tantos bancos, luzes e sons de catracas nos atrevemos a deixar vazar de nós um pouco do tesão refreado durante todo o dia...
Você lindo, verdemente inusitado, cabelos encaracoladose e espreguiçando o corpo como a dizer: "apossa-te de mim" ou "toma-me de assalto".
Delicadamente começo uma outra fase do jogo, e disparo em sua direção a voracidade de minha inconstante libido. Adoraria romper uma a uma as resistências de seu corpo a uma parte do meu...
Frontalmente nos olhamos e num cumprimento mais que silencioso lamentamos a chegada de um violão (acredite, pois é a verdade!).
O calor aumenta, quase na mesma velocidade do perigo.
O ônibus fica diminuto para represar nossa ânsia de liberdade! Descemos e ali naquela rua escura nos atrevemos ao primeiro beijo, triunfal foi observar aquele sorriso amplo e angelical.
Não consegui resistir ao cheiro de sedução que exalava dele e quase ofegante arrastei pé ante pé aquela silhueta para a garagem que certamente acolheria em sua escuridão dois amantes perdidos pelas ruas de São Paulo.
Cabisbaixos passamos pela porta entreaberta para não despertamos aqueles que agitados habitavam as camas logo acima.
Cada peça de roupa jogada ao chão revelava um pouco das chamas que vivamente iluminariam aquele lugar escuro e dono dos mais diversos odores.
Nada era previsível naquele instante, apesar de já ter passado tantas vezes por esse ritual, pois o brilho solar daquele corpo nú trazia a tona a lembrança da ingenuidade perdida , da sombra espalhada pelo vento, do esquecimento... Era um momento como todos os outros e também único e despretensioso.
Percorri cada músculo e reentrância possível de ser alcançada por minha língua experiente e indecisa.
Não consigo lembrar o momento no qual decidimos ligar nossos alvos corpos só pude perceber exatamente quando ouvi sua respiração ofegante.
Agitados, cadenciados, insaciáveis nos mantivemos assim por um longo tempo e num instante você já gozava no chão geométrico onde logo em seguida outro jato cortaria o ar.

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