domingo, 15 de novembro de 2020

Desejo inanimado

Era simplesmente lindo... As tatuagens, o leve pelo loiro que recobria todo o corpo e a juventude exacerbada davam o tom do desejo contido desde o último encontro.
Algumas breves mensagens pelo whats, verdadeiros sussurros digitais, mantiveram um pouco da chama acesa nos corredores escuros daquela sauna. Essas não traziam muitos elementos que ajudassem a desvendar os mistérios por traz daquele menino.
Um dia quente, um lugar marcado e uma pausa para um café nas alturas, foram o pano de fundo para discussões políticas, questões existenciais, dramas familiares, tudo com muita indiferença e mecanicidade.
Um passeio pelas ruas, logo após um beijo roubado, optou-se por um daqueles hotéis mórbidos do centro de São Paulo, excelentes espaços para aplacar os desatinos sexuais.
Na recepção um rapaz de óculos, ocupado em falar ao telefone e, por isso, mesmo quase nenhum contato visual ou simpatia. No quarto alguns espelhos, elemento fetichista quase obrigatório.
Os beijos começaram ameaçadores, fortes, úmidos e logo as peças de roupa caiam ao chão uma a uma, novamente se podia vislumbrar a brancura da pele, que era quebrada por desenhos, letras e riscos que tinham um que de Infinito. Ali havia uma bunda ávida por uma língua, que não se fez de rogada e percorreu cada um daqueles riscos anais e era possível ouvir pequenos gemidos. Essa mesma língua percorreria as demais partes do corpo e com violência tentaria penetrar aquele ser pequeno e delicado. Ao contrário da outra vez a dominação não seria percebida da mesma forma e causaria desconforto.
Gozar era parte do ritual e seria respeitado... Território devidamente demarcado pelo esperma seria mecânica e rapidamente retirado... Sem convites, sem sutilezas, sem carinhos, mas repleto de ausência, objetificação e silenciamento. Uma paisagem branca repleta de inconstâncias e problemas, centrada no próprio reflexo do espelho.

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